O sociólogo Paulo Baía, à direita, relata a ameaça ao procurador-geral do Ministério Público, Marfan Vieira
Foto: Alexandre Bum / Agência O Dia |
Rio - Numa investida que remete a ações praticadas nos tempos da ditadura, quatro homens armados e encapuzados sequestraram o sociólogo, cientista político e ex-secretário estadual de Direitos Humanos Paulo Baía, ontem de manhã, apenas para dar um recado: “Não dê mais nenhuma entrevista e não cite a Polícia Militar de forma alguma, senão será a última entrevista que o senhor dará”.
O “atentado ao estado democrático de direito”, como definiu o procurador-geral do Ministério Público, Marfan Vieira, com quem Baía se encontrou no início da tarde, foi praticado por um homem negro, um branco e dois pardos, que usavam roupas de moleton com capuz, máscaras de esqui e óculos escuros.
Segundo ele, o motivo da ameaça foi reportagem publicada nesta sexta-feira em ‘O Globo’, na qual Baía afirma que, na manifestação no Leblon de quarta-feira, “a polícia viu o crime acontecendo e não agiu” e que “ o recado da polícia foi o seguinte: agora vou dar porrada em todo mundo.”
Baía foi sequestrado às 7h30m, quando fazia sua caminhada habitual no Aterro, na altura da Rua Buarque de Macedo. Ele foi abordado por dois homens, que mostraram as armas na cintura e o puseram no banco de trás de um Nissan preto sem placa, com vidros fumê. Imagens de câmeras da CET-Rio e de prédios próximos serão requisitadas pela polícia e pelo Ministério Público.
“Foram poucos minutos. Falaram e se calaram, mas percebi que eram bem articulados. Fizeram o retorno e me deixaram em frente à Biblioteca Nacional. Antes de eu sair do carro, só disseram mais uma coisa: “O recado está dado”. Ele diz que nunca recebeu qualquer ameaça e não pretende andar com seguranças.
No fim da tarde, Baía foi ao encontro da chefe de Polícia Civil, Martha Rocha. “O atentado não foi só contra mim. Foi contra a imprensa e a liberdade de expressão também”. Baía diz não saber de quem partiu a decisão de intimidá-lo.
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