Domingo, dia 5 de maio, acontece a 1ª Farofada Cultural de Curitiba. Será realizada nas chiques calçadas de granito da Av. Bispo Dom José, no Bairro Batel.
Por mais estranho que possa parecer, a 1ª Farofada no Granito é um movimento popular, espontâneo, sem nenhuma articulação de partidos políticos, sindicatos ou qualquer entidade estabelecida. Uma iniciativa popular que ganhou força na rede mundial de computadores no mesmo dia em que foi divulgado o vídeo em que um grupo de skatistas foi abordado por guardas municipais enquanto tentavam gravar suas manobras nas chiques calçada do bairro mais charmoso da capital.
Coincidência, ou não. Neste mesmo dia a postagem do Polaco Doido sobre o assunto foi, de longe, a mais visualizada desde a criação deste espaço insalubre. Mais de 6.000 visualizações em um único dia. Aqui: http://www.skora.com.br/?p=4615
O convite para o evento, criado no Facebook, já conta com mais de 61 mil convidados e destes, 6.691 já confirmaram presença.
Imagine, se apenas 10% destes confirmados aparecerem na farofada, serão 600 pessoas manifestando sua indignação. Isso é muito mais que a marchas contra corrupção, orquestradas por institutos Milêniuns da vida, com forte aporte financeiro e grande divulgação nos meios de comunicação corporativos.
É claro que por se tratar de uma iniciativa popular e pela grande adesão de internautas o evento gerou reações desesperadas de alguns curitibanos mais conservadores e acostumados com as mamatas e benesses recebidas dos poderes públicos, nunca antes questionadas pelo povão em geral.
Chicarelli, vereador debutante do PSDC municipal, em pronunciamento na câmara de vereadores, implorou ao prefeito para que os organizadores da Farofada fossem responsabilizados criminalmente pela organização do evento e, segundo ele, os curitibanos devem ser educados para sempre obedecer calados, nunca se indignar e nunca se manifestar. Demonstrando toda a tacanharia de um vereador eleito pelo povo, um vereador que defende apenas uma elite historicamente estabelecida, tentando utilizar medidas ditatoriais contra uma manifestação puramente popular. Eleição após eleição, mudam-se os nomes, mas a representação de nossos vereadores continua sempre a mesma.
J.J. outro ilustre desconhecido blogueiro da capital, também se mostrou indignado com o evento. Reduziu a manifestação a um movimento exclusivamente de skatistas que querem destruir o patrimônio dos moradores do Batel. Para ele, a Farofada é nada mais que uma anarquia, uma bagunça promovida por idiotas que devem ser reprimidos pela polícia.
O posicionamento de J.J. repercutiu em vários outros blogs da capital ao ponto desta visão simplista do movimento tomar dimensões nacionais e chegar as páginas do PIG em um de seus mais reacionários representantes, a Folha de São Paulo.
O que me causa grande estranheza é a dificuldade que os curitibanos conservadores e elitistas têm de entender os motivos que levam tantos outros curitibanos a apoiar e participar desta 1ª Farofada Cultural nas Calçadas de Granito.
É a favor dos skatistas. Sim, mas não apenas.
É contra uma obra milionária que beneficia apenas um grupo muito seleto de moradores e comerciantes da cidade. Sim, mas não apenas.
É contra uma segregação irracional que divide os cidadãos da cidade em dois tipos, os pobres da periferia e os chiques do batel que como água e azeite não se misturam, que como nos tempos de apartheid na África do Sul, devem utilizar calçadas separadas, transportes separados e estabelecimentos comerciais separados. É também, mas não apenas.
É contra as administrações anteriores da capital paranaense que transformaram a antes excelente cidade num caos promovido por conchavos, obras superfaturas e benfeitorias descabidas a favor de uma minoria muito influente nos círculos do poder. Também, mas não apenas.
É uma indignação coletiva por causa de tudo isso e muito mais, é particular de cada um. Uma manifestação que pretende ser alegre, bem humorada e pacífica.
Uma manifestação puramente popular, sem apoios ou patrocínios de nenhuma grande rede de comunicação ou de qualquer organização. São apenas cidadãos que vão se encontrar para conhecer as belas calçadas, para ver onde foi empregado o dinheiro de seus impostos. Uma manifestação cujos organizadores apenas deram um “start” e não foi preciso mais nada. Todos participantes têm seus motivos particulares para estar lá e vão fazer isso farofando, sambando no granito, mostrando que apesar de esquecidos nos últimos vinte anos os bairros não chiques, distantes do centro da cidade também querem ter voz e também querem participar ativamente das decisões importantes do município.
No mais, faça chuva ou faça sol. O polaco aqui também vai farofar nas calçadas de granito. Já estou com o isopor a postos, pronto para ser abastecido com várias latinhas de cerveja gelada, uma cadeira de praia, capa de chuva, guarda sol e pensando seriamente em levar os cachorrinhos Toni e Kica, para que também participem da farofada.
Vamos nos encontrar lá. Conversar, rir, dançar num espaço que é público e de todos nós?
Até domingo, 5 de maio, ao meio dia, faça chuva ou faça sol.
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